Grazie, Stefano!

14 04 2014
 
*Por Juliana Justino

Vida de tifosi não é fácil. Hoje acordei com a demissão do Stefano Domenicali e tive que vir aqui escrever sobre ele. Não é segredo que sou fã do cara, ele tá no wallpaper do meu celular. Por isso, a saída dele me deixou bastante triste, mas ainda mais pelo rumo que as coisas parecem tomar na Ferrari. Depois de alguns olhares atravessados de “você leva isso muito a sério”, vou explicar porque o faço. Muita gente reclama da postura da Ferrari sobre tudo quanto é assunto, mas me parece que estão sempre falando da Era Todt. Domenicali é um cara corretíssimo que dedicou 23 anos da sua vida a Ferrari. Só aí eu já tenho um respeito que não dá para perder pelo cara.

Domenicali: "como chefe, eu assumo a responsabilidade"

Domenicali: “Como chefe, eu assumo a responsabilidade”

A real é que a Ferrari perdeu hoje seu último pedacinho de ética e moral. A quantidade de manifestações de gente boa que circula nos paddocks enaltecendo o caráter e a competência do Domenicali nas redes sociais ilustra bem o que eu estou falando. Mas, infelizmente, na Fórmula 1 caráter e competência não são as melhores moedas. A Ferrari ficou tempo demais se contentando com migalha e algumas cabeças precisavam rolar para justificar a falta de troféus nos último anos. O processo começou com a demissão do Chris Dyer, estrategista da equipe, no começo de 2011 e de Aldo Costa, que era diretor técnico, no meio do mesmo ano. Passou inclusive pelo Massa, que tomou muito na cabeça pra compensar erros dos outros lá dentro.

Hoje, Dyer é engenheiro chefe da BMW na DTM. A montadora venceu o campeonato no seu primeiro ano de volta à categoria e disputou o segundo ponto a ponto com a Audi. Aldo Costa é diretor de engenharia da Mercedes na F1. Isso, aquela equipe que tá andando muito mais do que todas as outras do grid. Não sei, mas tenho a impressão de que eles não eram o problema. Assim como não é o Domenicali.

Quem acompanha a equipe vermelha há algum tempo sabe que não é fácil manter as coisas funcionando e em paz por lá. Primeiro, seu superior é Luca di Montezemolo, o cara mais bipolar da Fórmula 1. Segundo, é a equipe mais cobrada da categoria, onde tudo é motivo de polêmica, tiro, porrada e bomba. Terceiro, seu time é da Itália, aquele país que não conhece a palavra ‘organização’. Stefano é o cara que manteve isso tudo rodando relativamente sem crises nos últimos seis anos.

Apesar de ele mesmo nunca ter se eximido da responsabilidade – inclusive hoje – pela falta de resultados satisfatórios na equipe, não acredito que sua saída vá trazer mudanças expressivas nesse panorama. Não é expressamente necessário ter experiência prévia no automobilismo para gerir bem uma equipe de Fórmula 1. Flavio Briatore tá aí pra mostrar que existem outros meios, é verdade. Aí cada um interpreta como quiser.

O que mais me espanta (mentira, já acostumei) é a burrice da Ferrari. A burrice é tamanha que eu quase tô acreditando que foi mesmo o Stefano que pediu a demissão. Por que demitir o cara que comanda tudo nas primeira corridas do ano? Até tudo se acertar, já podemos desencanar desse campeonato, né? Juntamos com o “ótimo” carro que temos nas mãos e está pronta a receita da desgraça. Acrescente pitadas de ego de Fernando e falta de estímulo de Kimi. Estamos é lascados.

Agora, acompanhem a cereja do bolo: o fato é que o Capo da Ferrari passa a ser Marco Mattiacci, um cara que passou os últimos quatro anos vendendo Ferrari nos Estados Unidos. Antes disso, passou outros quatro vendendo carros da rossa na Ásia. Puxa, oito anos como gestor de operações de vendas tá me empolgando tanto que quase dormi no meio do parágrafo. Stefano sempre soube baixar a bola da italianada louca da Ferrari. Esse cara aí vai se afogar no sangue. Provavelmente, no seu próprio sangue.

O que me consola é que dizem por aí que a mudança é temporária e que Luca di Montezemolo continua em busca de Ross Brawn ou Briatore para ocupar o posto. Vejam bem o que está me consolando: um cara muito bom aposentado que precisaria de mais umas sete safenas pra lidar com a Ferrari e um maldito com certificação de filho da puta sem princípios morais. Ferrari, por que você faz isso com quem te ama?

Tinha pensado em escrever mais um monte de coisas sobre o Stefano, porque ele merece, mas o assunto está me deprimindo por razões óbvias, então me resta fazer o que sempre fiz: torcer para que tudo dê certo. Que o Domenicali encontre um lugar no automobilismo pra provar que os críticos estavam errados e ser feliz. E que a Ferrari pare de ser burra e esquizofrênica, pelo amor de deus.


Ações

Information

4 responses

14 04 2014
Julio Melo (@JulioMeloF1)

A Ferrari é muito grande, como se fosse um Flamengo ou um Corinthians, e tudo lá ganha uma dimensão muito grande, tanto para coisas positivas, quanto para coisas negativas…

Ela deve estar sofrendo uma pressão muito grande (de todos os lados e internamente também)… e quando um time não dá resultado é mais fácil demitir o treinador do que os jogadores (nesse caso um dirigente).

14 04 2014
Juliana Justino

Pois é, Julio. Tudo se complica quando combinamos a tradição da Ferrari e a grana da Fórmula 1. Mas se pegarmos as maiores equipes da F1 atual, tirando a Red Bull, todas trocaram seus chefes de equipe no último ano. Espero que esse movimento “futebolístico” não apanhe a Fórmula 1, porque realmente acredito que este não é o caminho.
Será que esse moço novo aí vai aguentar a pressão que o Stefano aguentava?

14 04 2014
Julio Melo (@JulioMeloF1)

É Juliana, acho que mudar de no meio da temporada demonstra a crise (e só, pois acho Luca di Montezemolo um grade gestor, mas Briatore seria um tiro no pé) na equipe.

Acredito que se a Ferrari não melhorar até a F1 chegar à Europa, se ela não fizer um bom GP na Espanha (terra do principal piloto e do principal patrocinador) acho que Alonso vai chutar o balde.

4 05 2017
A.

Juliana, faz muita falta esse blog, adoraria te ver comentando sobre a temporada atual.

E mais ainda de saber se tem um e-mail pra eu poder estabelecer um diálogo contigo!

Comenta aí!